Como virei celebrante de casamento
Gosto de contar histórias porque acredito que, assim, mantemos as memórias vivas. Quem conhece a Rito da maneira como é hoje talvez nem imagine a jornada que percorri de noiva a empreendedora com propósito quando abracei essa ideia linda e virei celebrante de casamento.
MINHA HISTÓRIA DE NOIVA A CELEBRANTE DE CASAMENTO
A decisão de me tornar celebrante de casamento nasceu de uma experiência muito pessoal: minha própria cerimônia.
À época dos meus preparativos, a decisão de celebrar o amor na presença das pessoas mais queridas veio seguida de um grande questionamento: e agora, como será a nossa cerimônia?
Se por um lado o Rafa é mais desencanado e, além disso, considera a si mesmo como um católico não-praticante, por outro eu tenho (muita) fé na vida, acredito que há algo maior que nós mesmos e procuro ser do bem.
Ainda assim, não frequento nenhuma instituição religiosa. Bem, para falar a verdade, eu já circulei por uma porção delas, senti Deus em cada uma e admito que gosto de quase todas, mas ainda assim digo de coração aberto que eu não sei afirmar em qual livro está escrita a verdade absoluta.
Por isso, decidi permitir que minha fé repouse nos laços de afeto, no desejo de fazer a coisa certa, na retidão de caráter e na esperança de que algum dia a razão disso tudo há de ser revelada. Love is my religion.
Com tudo isso em mente e por acharmos mais coerente, de cara já descartamos a ideia de casar na igreja. Nada contra, mas é que a gente sentia uma espécie de desconforto em realizar uma cerimônia tradicional sem sermos praticantes de verdade; como se estivéssemos tomando um atalho numa estrada que não era a nossa, sabe?
O discurso do celebrante de casamento era uma questão importante pra gente
No mesmo sentido, apenas chamar um juiz de paz com efeito civil parecia ser uma solução incompleta. Nos era indispensável falar de amor e da nossa história para que a cerimônia pudesse transmitir nossa sonhada mensagem de casamento pessoal, único. Não era exatamente um casamento sem religião, mas sim um casamento baseado na combinação das nossas crenças e valores pessoais.
Embora já tivéssemos descartado as primeiras possibilidades, mais tradicionais, ainda não sabíamos ao certo quem deveria ser nosso celebrante de casamento. Então nos dedicamos a pensar na cerimônia e passamos a procurar alternativas.
Casar na praia: a primeira decisão da cerimônia de casamento
Na primeira vez em que nos vimos, Rafa e eu estávamos em Trancoso, na beira do mar. Alguns anos depois, com os pés na areia fofa de São Sebastião, chegou o dia em que percebemos que já éramos uma família e decidimos nos casar. Por causa disso, nosso caminho natural foi desejar um casamento na praia, com amigos reunidos para uma cerimônia ao ar livre, com luz do dia e cheiro de sal e maresia perfumando o ar.
Embora meu casamento tenha acontecido em 2012, meus preparativos começaram em 2010. Falando desse jeito eu sei que parece que faz um século e não apenas alguns anos, mas naquela época isso que é chamado de “mercado de casamentos” no Brasil era muito, muito diferente do que é hoje: as inspirações vinham quase todas de blogs gringos por falta de publicações online nacionais, o conceito de destination wedding ainda não era muito difundido e quase não havia opções de fornecedores acostumados a fazer cerimônias ao ar livre, fossem elas na fazenda ou na praia.
Nesse contexto, nossa jornada em busca de um celebrante de casamento não foi nada fácil: para quem desejava uma cerimônia personalizada a partir da escuta de nossas histórias, o cenário era desolador, na medida em que isso sequer era visto como algo disruptivo – era apenas uma coisa que ninguém se propunha a fazer, ou pelo menos não da maneira que desejávamos.
Nós nos dedicamos de verdade pesquisando e lendo muita coisa a respeito – assistimos a algumas celebrações pessoalmente e gastamos um tempo precioso tentando encontrar uma cerimônia de casamento para chamar de nossa, mas, a despeito dos nossos esforços, depois de alguns meses finalmente entendemos que não iríamos encontrar aquilo que estávamos procurando. Simplesmente ainda não existia.
CERIMÔNIA PERSONALIZADA PELA PRÓPRIA NOIVA: O COMEÇO DE TUDO
Foi assim que decidi eu mesma escrever a nossa cerimônia. Sempre amei escrever e depois de ter lido tanto a esse respeito, eu me sentia segura de que essa era única decisão possível para ter a cerimônia de casamento com que vinha sonhando.
Num gesto de imensa generosidade, uma amiga querida aceitou nos ajudar a conduzir a experiência lendo o que eu escrevesse em voz alta. Tínhamos, assim, encontrado nossa celebrante de casamento. Para o discurso de casamento que ela leria, escolhi palavras que me comovem e botei fé que, através dessa emoção, todos entenderiam que Deus estaria presente. Nossa história, nosso jeito de viver o amor, nosso desejo de acolher nossas famílias e amigos… tudo se tornou realidade através de um texto bem escrito, capaz de fazer com que todos os que presenciaram a cerimônia se sentissem parte dela.
O resultado foi um rito lindo e emocionante, recheado de significados que faziam sentido pra gente, para o casal que somos. Havia, ali, verdade e amor. E isso une.
COMO VIREI CELEBRANTE DE CASAMENTO PROFISSIONAL: UMA JORNADA DE NOIVA A EMPREENDEDORA COM PROPÓSITO
A Rito nasceu nos dias seguintes. Como não poderia deixar de ser, estávamos na beira da praia – com os pés na areia branquinha de Tulum e com o corpo salgado pela água do mar, foi como luz que se acende quando a ideia me atingiu: e se dividíssemos essas bênçãos com o mundo? E se outros casais pudessem passar por uma experiência tão leve, rica e transformadora como foi a nossa?
Papel e caneta na mão, rascunhei o serviço que eu gostaria de ter contratado e delineei o perfil de celebrante de casamento que eu gostaria de ter encontrado. Para criar um processo que fosse eficiente sem deixar de ser prazeroso, usei tanto os meus conhecimentos acadêmicos quanto minha experiência profissional trabalhando para setores estratégicos de diversas multinacionais. Inicialmente pensada para ser um hobby, por um ano e meio a Rito correu paralelamente à minha carreira de formação – para não prejudicar minha carreira primária, a ideia era não celebrar mais do que um casamento por mês.
O tempo fluiu levemente até o dia em que, logo depois de ter respondido ao e-mail de uma noiva lhe dizendo que eu não tinha sua data disponível, me dei conta de que no meu coração aquilo não estava bem: eu não queria mais dizer não, eu não queria mais ter tão poucas datas disponíveis. O que eu realmente queria era empreender em algo que causasse impacto de verdade na vida das pessoas ao mesmo tempo em que me conduzia na direção de me tornar uma pessoa melhor. Ser celebrante de casamento é isso e muito mais: amo o que faço – vivo cercada de beleza! – e nunca me arrependi dessa decisão.
De toda a história que contei sobre o meu próprio casamento, acho importante contar que nem tudo foi feito de flores: isso em nada diminui o tanto que minha amiga se sentiu honrada e nem o quanto eu sempre serei profundamente grata, mas embora a minha Celebrante de Honra tenha celebrado lindamente, ela parecia bem nervosa, e com toda a razão!
Durante os preparativos, eu comecei a imaginar se não estaria pedindo demais a ela – talvez fosse muita exposição, ou quem sabe responsabilidade demais para alguém que deveria poder apenas curtir o momento com a gente… Assim, pensando tanto em aliviar o peso dos ombros dela quanto para servir de Plano B na eventualidade de ela não se sentir confortável na hora, decidimos agendar uma diligência com um Juiz de Paz para obter o efeito civil durante a própria cerimônia simbólica que eu havia criado.
Eu me senti muito mais tranquila sabendo que, na eventualidade de a minha amiga ficar insegura na última hora, um profissional experiente garantiria que não ficássemos sem celebrante de casamento, ainda que um rito celebrado apenas por um juiz não fosse o nosso ideal.
No fim, tudo deu certo, e essa experiência me inspirou não somente a me tornar Celebrante de Casamento mas também a criar maneiras de guiar outras pessoas que desejam traçar esse mesmo caminho, abraçar esse esse ofício e aprender como celebrar um casamento. Mas isso é assunto para outros post!